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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Me deu saudade de Pernambuco

Eu quero ter o sotaque das raízes da minha família.
Quero falar arrastado, afoito e alto.
Acho lindo o China cantando Erasmo e Roberto levado pelo Mombojó.
Quero frevo, calor, água de coco e praia.
Quero chinelo, short, vestido e porque não saia?
O sofá da minha avó, o leite que desce pesado e que eu nunca me acostumei.
Os pés de fruta da casa da dona Deci que eu passava tardes sentada debaixo comendo o que caía.
As compotas de caju, mamão e figo que ela fazia e me ensinava o ponto.
As fantasias de carnaval que ela e minha vó costuravam na salinha de 2 m².
Trote dos cavalos e o cheiro de chuva que trazia consigo os sapos na calçada.
Dia de feira com queijo fresco,  missa bem vestida sentada do lado do filho do prefeito que gosta do sotaque paulistinha.
Os sabores do pernambuco são muito mais intensos.
O cheiro de suor, de música boa e de vida simples me fazem lembrar do meu avô.
Me ensinou a andar de cavalo, colher caju e assar castanha.
Dizia baixinho que eu era a neta preferida e ficava horas me contando da vida, dos 28 filhos e da primeira esposa.
Pena que não me lembro muito bem das histórias, só dos olhos azuis naquele rosto todo queimado de sol, os guias de Iemanjá no pescoço e o chapéu de vaqueiro.
Seu Antônio Felipe.
Me contou teorias sobre o fim do mundo durante a virada do ano, enquanto a cidade inteira passava o réveillon trancada em casa de luzes apagadas com medo do bug do milênio.
Minha avó Judite, cega de um olho, costurava inúmeros modelos de vestidos para as minhas bonecas.
Cada uma tinha o guarda-roupa próprio, vestido de noiva e moda praia.
Quando o carro do pão passava na rua, já sabia a quantidade que ela pedia e com a porta sempre aberta, entrava na sala e a chamava.
Os macaquinhos que moravam no quintal de trás e só iam no ombro dela. O milharal, as flores e as galinhas cantando enquanto engordavam.
Tio Cil, o único que permaneceu por lá, me levava na garupa da moto pras cidades vizinhas, me apresentava pra todo mundo e o centro de Garanhuns era pequeno pra imensidão do mundo que eu conseguia enxergar.
Tia Rose e o primo Flavio, sempre tão queridos, conversávamos como gente grande e eu, no auge dos 11, nem tinha ideia do tamanho da saudade que eu iria sentir.
Hoje, no último ano da faculdade, trabalhando e tentando equilibrar a leitura do livro novo, show que já comprei ingresso e o tcc, só queria me deitar na rede do quintal e ter como única preocupação o leite que não me fez bem.


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