Tenho vivido mais tempo do que o esperado. Desde criança, àquela fase que a gente começa a fazer planos e pensar em como será a vida de adulta, eu me imaginava sempre à frente do que era real. Com 10 anos, eu sonhava em ter 15 pra poder namorar. Com 16 comecei a trabalhar, terminei a escola e prestei o vestibular pra jornalismo, jogando no lixo a esperança do meu pai em ter uma filha bióloga. E tive o primeiro relacionamento que durou 3 anos. Com 17, já na faculdade, saí do primeiro emprego e tive tempo suficiente pra pensar sobre o que eu realmente queria e as notícias nunca foram tão boas.
Eu nunca vivi a idade que eu tive, sempre quis testar ideias de um futuro que eu nunca tinha certeza que ia chegar. Mas uma coisa é certa: Eu sentia medo dos 20. Ter 20 é estar perto dos 30, é estar prestes a terminar a faculdade, traçar a carreira profissional, ter mais dívidas do que dinheiro na conta, ter menos amigos do que já imaginou, ter receio de relacionamentos e o medo do futuro, pela primeira vez, me fez querer desistir.
Falta pouco mais de um ano pra eu me formar, não guardei dinheiro, não tenho carro nem iphone. Uso as mesmas calças jeans há um bom tempo, só compro outro tênis quando a sola do anterior rasga. Será que esses são os problemas dos jovens adultos atuais? Quando os meus pais tinham 20, será que eles tinham essas preocupações?
Da galera que estudou comigo no ensino médio, uns 5 fazem faculdade, outras 10 já tem filho e as demais namoram um cara que tem dinheiro e não se preocupam com nada além do cabelo loiro e liso.
Acho que me preocupo demais. Engraçado, a minha psicóloga ri dos meus medos e diz pra eu me jogar e deixar as coisas acontecerem. Mas aí que está: não consigo não ter controle do que está acontecendo comigo. E como a vida é cheia de tropeços, me apaixonei. Pro meu desespero. Pra minha loucura. Adubo pra insegurança.
Logo os meus 20 se tornarão 20 e uns, e hoje eu só queria ter 30 e um emprego fixo. Ter um gato e um apartamento pra voltar e ficar sozinha a noite. Mas isso é só especulação: ontem conversei com um amigo sobre casamento e abrir mão de carreira por amor. Que irônico. Eu traçando planos com um cara que eu nunca toquei, deixando abertamente claro que a minha pose de durona é só faixada, e na verdade o que eu mais quero é ter liberdade de gostar de alguém sem me julgar. O inimigo é sempre eu mesma. O problema é sempre comigo, a gente ainda pode ser amigo...
Tenho medo de arriscar e perder. Tenho medo de ficar na mesma. Não quero me jogar sem saber que ele vai estar lá pra me segurar. Não quero fazer papel de palhaça. Tenho medo de palhaço, sempre tive.
Quero vencer a idosa de 80 anos com 13 filhos que eu devo achar que eu sou e aceitar que eu me posso me apaixonar e ser interessante o suficiente pra algum cara. Eu penso demais nos outros. Devo guardar trauma dos 3 anos de casamento e me sentir uma divorciada sem qualidades.
Queria conseguir viver um dia de cada vez. Viver os 20 com plenitude de 20, com um namoro de plástico, emprego de recepcionista de consultório odontológico e 10 quilos a menos.
Mentira.
Me dá repulsa imaginar uma vida assim. (os 10 quilos a menos não é má ideia!)
Tomar café com pessoas do passado talvez seja a maneira que eu arrumei de manter elos e reviver os 15, 16, 17 anos que passaram sem que eu percebesse. A gente se reúne e bebe cerveja como gente grande, dá risada e relembra casos e histórias que na época não passavam de bobagem. Hoje é tão nostálgico rir das besteiras que a gente fazia e achava que tudo teria uma consequência, e a única coisa que eu guardei de tudo aquilo foram poucas fotos, alguns bilhetes de cinema, tampas de garrafa, cartinhas e uma aliança de compromisso de um ex que hoje é meu melhor amigo gay.
Existe um café marcado desde Março. É um daqueles encontros que a gente faz de tudo pra que aconteça, mas sabe que não. A gente sabe que vai relembrar coisas que viveu demais.
Despertar nos 20, enfrentar algumas horas de sono mal dormido e convencer a psicóloga que eu não posso ter passado tanto tempo adiando as situações.
Li / Vi em algum lugar um dialogo onde uma mulher dizia que as pessoas tem filhos pra que eles façam o que os pais não conseguiram fazer. Acho que com os amigos, há uma certa relação, mas inversa em relação ao tempo. Enquanto os filhos serão para algo no futuro e para fazer o que os pais não fizeram, os amigos são pra lembrar do passado, das coisas que aconteceram.
ResponderExcluirSensacional o texto!! Às vezes paro para pensar e observo que cada minuto que acabou de se passar nunca mais voltará. Um tanto quanto desesperador né? Por isso, apesar de nem sempre vivermos como queríamos, o importante é aproveitar cada momento, pois ele é único!
ResponderExcluirBoa tarde!