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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Infelicidade instantânea

Você ouve "Today I don't fell like doing anything, I just wanna lay in my bed..." vê o celular vibrando debaixo do travesseiro e percebe que já são 06h. Pois é, a sensação que você só deu um cochilo de meia hora e já tem que ir trabalhar.
Eu acendo a luz, ligo a Tv e começo a ver as desgraças matinais: Pedofilia, estupro, assassinato, parmamentar ladrão, pessoas alienadas... - Respiro - é só mais um dia comum. Uma Quinta-Feira que poderia ser o dia da minha morte, - mas no fundo - eu sei que não vou embora hoje.
Me visto, escovo os dentes, limpo o delineador do dia anterior que faz meu rosto amanhecer com olheiras enormes. Tudo bem, vaidade não é o meu ponto forte. Meu pai já está me esperando no carro, eu penteiro o cabelo, jogo a franja no rosto e visto minha camisa xadrez. Desço, não dou bom dia, odeio falar pela manhã. Ele me entende. Temos um contato indireto, mal nos falamos, mas nos damos bem.
A caminho da padaria onde tomamos café juntos todos os dias, fico pensando o que poderia acontecer para que me impedisse de chegar ao escritório: Mentalizo que o carro poderia bater, eu ficaria presa entre os escombros e talvez não morreria. Eu poderia pedir demissão, também. Como será pedir demissão pra si mesmo?
Bebo o chocolate quente, como um pão de queijo, meu pai vai embora sem se despedir e eu sempre penso que eu ou ele poderiamos morrer hoje e sequer dizemos uma última palavra. Ele nunca disse que me ama.
Coloco os fones no último volume e venho cantarolando Mãe - "pedra que não rola cria limo, segue em paz o seu caminho..." - nesse trecho eu sempre me sinto mal, aquelas tristezas instantâneas que me dá toda manhã.
Não sei se eu estou pronta pra perder. Eu queria saber quando foi que tudo isso aconteceu, quando eu me tornei essa pessoa fria, dura e incomum. Quando o meu deus foi embora, quando a reza antes de dormir quando eu tinha medo de filme de terror não deu mais resultado. Quando a insônia e a vontade de cortar os pulsos começou a me vir a cabeça toda noite... Where's my mind?
Me afasto, tenho repulsa e vontade de ir pra longe. Ninguém faz idéia do que se passa aqui dentro. Não é tpm, não é rebeldia, não é depressão. Eu acho que é mágoa. Algo bem mais forte que dor. O meu pai sabe porque eu não dou bom dia pra ele. E ele também sabe porque não consegue dizer que me ama. Ele sabe porque eu olho pra ele com olhos diferentes. Ele sabe.
Eu não sei. Ele foi embora sem se despedir. Nunca tive um argumento, nunca soube o real motivo. Mas ele sabe... Eu sinto vontade de conversar com ele, mas também sei que vai doer, então é melhor continuar assim.
Eu vou caminhando. Já tenho dezoito e sinto que acabei de nascer. Pago a minha cerveja, os meus cigarros e tudo o que me dá prazer. É tudo tão complexo que me perco dentro de mim, como se estivesse num espaço onde não há nada a não ser o vácuo: Um infinito que não me cabe. É apertado, tenho que me adaptar, buscar as minhas próprias razões. Quando foi que eu deixei de acreditar em tudo?
Meu primeiro nome é emoção e o sobrenome é desconfiança. Hoje eu não preciso mais de ninguém. Sou autodestrutiva, me suicido um pouquinho a cada despertar, vou dormir com menos esperança - a fé já deixou de existir, nem jesus, nem igreja - acordo mais inconformada e me sinto como um hamster numa gaiola: Correndo sem sair do lugar, sem chegar a lugar nenhum.
Estou no mesmo emprego há quase três anos. Fazendo a mesma coisa. Sabendo que não tem um lugar melhor aqui. Estou ciente que sou uma ótima colaboradora, mas infelizmente a empresa não tem mais nada a me oferecer. Mas eu continuo vindo aqui, todos os dias, das 07h30 as 17h30 - O bom dia entre dentes, a vontade de bater o carro, ficar presa nas ferragens; ou até mesmo me jogar da escada da cozinha que não tem corrimão, ficar afastada pelo INSS e processar a empresa por falta de estrutura.
Um dia a coragem chega.
Enquanto isso venho aqui escrever tudo o que ninguém parece escutar.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Será este o fim de mais um ano perecível?

***

E lá mesmo, naquela mesa, eu fiquei sabendo de histórias das quais eu nunca pensei escutar. Um passado marcado, com mágoas e recordações boas, coisas que precisavam ser ouvidas por alguém.
- Vamos alí acender um?
Puxei ainda mais a manga do meu moleton e o acompanhei. Dentre pessoas com rostos conhecidos, falantes e risonhos, com cerveja barata até o último fio de cabelo - de fato pessoas quais eu não me importaria se nunca tivesse sido apresentada - mas por educação eu ainda dou um sorriso frio, faço um sinal com a cabeça e passo, sem nenhuma intimidade.
Caminhamos em sentido daquela rua que nós sabiamos de cór, e no caminho demos algumas risadas, de assuntos simples, coisas que mais ninguém além de nós acharia graça. Discutimos religião, política e filosofia. Fizemos planos pro nosso futuro profissional, comentamos sobre alguns amigos em comum e aquele aperto no meu peito foi embora.
- Quer saber de uma coisa?
- O que?
- Você é muito especial... Não deixa esse garoto que está aqui desaparecer.
Eu queria ter dito mais. Tudo aquilo que ficou por horas na minha cabeça, idéias e mais idéias de diversos assuntos que nós conversamos. Mas eu fui a ouvinte naquele dia. Ele só queria conversar - um monólogo - mas eu o entendo. Eu me vejo nele. Era um reflexo distorcido que agora está nítido, claro e de alma lavada.
E por fim, eu soube naquele momento, que a amizade não está em anos de cumplicidade. Ela se demonstra em dias como esse, que eu saí de casa disposta a não ver ninguém, pensar bem mais em mim e me dei conta de que me isolar não iria ajudar.
Me senti viva por poder ser útil. Acredito que o propósito da noite tenha sido alcançado.
Ele não me respondeu. Só me deu o braço e me acompanhou até o ponto de ônibus. Já estávamos meio tontos, chapados... Demos mais risada, fizemos piada com bobagem, fiquei sabendo de alguns significados e me despedi. Foi rápido, do mesmo jeito que nos encontramos.
Foi uma noite inesquecível, como tudo aquilo que se faz especial pra mim: Simples e sincero.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

There's no way.

Você decide se desligar do mundo, coloca a playlist preferida, põe os fones do último volume e acende o cigarro. Estica a blusa de moleton com cheiro de sono, amarra o cabelo e encaixa o capuz, entra no bar e pede uma Heineken bem gelada, daquelas pra queimar a garganta.
Senta numa mesa na calçada e não consegue ouvir a própria cabeça, com a música tão alta nos fones. Mas na realidade o propósito era esse mesmo, se "desligar" lembra? Um amigo passa pela rua, acena, eu retribuo e ele vem de encontro a mesa. Ele puxa uma cadeira e senta, logo eu sou obrigada a pausar a música e puxar um assunto qualquer...
- Nossa, você por aqui?
- Pois é... Pra você ver.

Sabia que aquilo iria me render um livro inteiro de histórias, já que fazia meses que não nos encontravámos. Ele tem um lado de mim, e eu me enxergo refletida nele. Engraçado é que não somos super amigos, tampouco sabemos algo da vida do outro. Mas é sempre bom vê-lo, mesmo que seja uma vez ou outra, porque sei que ele me dá algo pra pensar, sempre acrescenta.
- Anda lendo meu fotolog?
- Sempre vejo nas atualizações, você mudou de user, não foi?
Eu o questionei, mas já sabia a resposta. Ele cancelou o antigo desde a última vez que nos vimos, fez outro e não tinha me adicionado. Mesmo assim, eu sempre lia. Me é tão real, eu sinto as palavras dele, soa como um passado marcado, é muito vivo.
- Mudei sim. Vou fazer um livro daquele outro.
Essa eu não sabia. Ele tem tudo pra ser escritor. Mas é real o que ele escreve, não é conto, não é sonho, não é viadagem. É dor, é lágrima, é sangue. Acho que é por isso que ele me serve de espelho. E fui encontrá-lo logo hoje, day off...
- Sério?! Poxa, você escreve muito bem. Muita imaginação, hein?
- Antes fosse.
Virei mais um copo. O papo ia ser longo.
- Ela me deixou. Minha vida mudou demais desde então... Preciso passar isso pro papel agora, preciso dar um jeito de arquivar tudo isso.
Eu percebi. Fez tatuagens, bebia como se não se importasse mais com nada. Não acompanhei, mas ficava sabendo. Moramos em cidade pequena, sabe qual é, tudo se espalha muito rápido...
- Mas como foi? Você está bem agora?
- Ela está noiva de outro. Acho que isso já responde as duas perguntas.
Nossa. Um cara que se diz tão forte, tão senhor da razão, deprimido por amor - ou falta de - dor essa que eu sinto sem ao menos ter motivos aparentes. Já ele tem todos. Eu o entendo. Mas acho que não é a hora de perguntar, mesmo querendo saber. A ferida ainda está aberta, sinto que a cabeça dele está pulsando, imagina por dentro...
- O tempo cura.
Não consegui falar mais nada.
- Quer outra cerveja?


***

sexta-feira, 1 de julho de 2011

MOVA

Com dezoito anos eu já me enxergo escravizada com boletos da Universidade, acordo presa ao meu emprego de merda, que eu preciso para conseguir contruir um futuro qual eu sempre quis. Olho para o lado e vejo "colegas" discutindo a balada do final de semana, o que vão beber, pra onde vão viajar nas férias... Confesso que só enxergo futilidade. Pessoal reclama da vida, mas estuda na mesmo bairro, trabalha menos de 6h diárias, não paga a faculdade, faz da vida uma grande festa, mas continua reclamando. Tem pai e mãe, casa grande, dinheirinho debaixo do travesseiro pra comprar celular de última geração e tomar cerveja no barzinho da Goiás. Entra nas redes sociais xingando os professores e anunciando a câmera que comprou, faz um portfólio e vira "fotográfo". Reclama do papaizinho que não deu dinheiro pra ir pro exterior, reclama que tem que trabalhar Segunda-Feira, mas uma vez por semana vai fazer cursinho e não precisa ir para a empresa. Compra notebook e twitta de iPad. Enfia a mensalidade no rabo e enche a boca pra falar mal de quem mora no subúrbio. Mas vocês sabem, né... A vida dessa galera é muito difícil.
Mova sua nova TV. A comida sem gosto. Sua pilha de contas. Mova. Mova.




Status. Hoje a única coisa que vale a pena. No meio dos jovens, encontrei um mundo qual eu não imaginava existir, onde a educação já não é mais necessária, o dinheiro, as roupas, o corte de cabelo, comer a colega de trabalho - isso sim é ser alguém, é ter "fama", ter o letreiro na testa denominado STATUS. Que se foda a educação, os estudos, o esforço cotidiano que eu faço pra ter um futuro onde eu possa desfrutar da minha liberdade. Isso não interessa mais!!! Hoje o que conta é cartão de crédito na carteira, compras e mais compras. Encher a cara de uísque doze anos e cospir na cara de um trabalhador que fica até tarde numa fábrica qualquer pra poder comprar leite pros filhos. Hoje o legal é ser puta, é ter peito e bunda. Inteligência não conta, cala a boca e sorria pra fazer social, vamos lá... Querem o seu corpo, sua escravidão, sua alma não vale de nada, é lixo, virou pó.
Mova o sistema falido. A fome nas ruas. O valor esquecido. Mova. Mova.




"Quem aí já teve vontade de sair na rua pra protestar sobre qualquer coisa, mas teve medo de apanhar da polícia?" - Quando um rapaz do meu Facebook postou isso, me veio muita coisa na cabeça.
Eu realmente já tive vontade de protestar, mas será que é seguro? Quem garante eu não não vou presa como uma qualquer e vou ficar numa cela "diferenciada" por ter curso universitário? A gente vê nos noticiários que na França ou outros países da Europa, o povo vence o goverso assim: Saindo na rua pra reivindicar os direitos. E a gente aqui no Brasil, faz o quê? Senta e chora. A idade mínima pra se aposentar sobe a cada novo mandato, e eu só tenho a certeza que se eu for mais uma nas estatísticas e precisar desse dinheiro que é descontado todo mês do meu pagamento, eu vou morrer antes. O salário mínimo continua mínimo e sobreviver com ele não é aceitável. Bolsa família, Vale gás, Bolsa escola... Migalhas DO NOSSO DINHEIRO que o governo repassa pra quem tem necessidade. Com isso, fazem campanha com as famílias sorrindo pra câmera e eles divulgam no "horário partidário obrigatório". O povo quer emprego, as pessoas precisam viver e não sobreviver de miséria, sendo cada vez mais escravizados pelo Estado. O Brasil só reina em democracia pelo fato de mostrar a bunda não dá cadeia nem é falta de "respeito". A manchete é casamento gay, uma vitória, claro, mas o quão deve ser realmente grave a situação pra ter destaque no Jornal Nacional?
Mova o Estado que escraviza, as leis que te sugam, a polícia assassina. Mova. Mova.




A igreja que ilude, cura as dores provisóriamente, te deixa cheio de si pra gritar aos quatro ventos o quanto seu deus é poderoso, que vocês se falam todo dia, ele te dá o caminho, uma nova vida... Acho tudo tão lindo! Já acreditei nisso tudo. Já me induziram a crer no "divino". E confesso, eu era mais feliz. Feliz por colocar a culpa nele e tudo o que acontecesse na minha vida era intervido por ele. Se eu me tinha uma prova pra fazer, só ouvia "pede pra deus", ele vai me dar as respostas, Mãe? - Carregar toda uma doutrina, toda uma história ficticia que qualquer pessoa de bom senso ao ler a bíblia consegue distinguir o quão fantasioso é esse mundo religioso... Mas o que acontece ao decorrer de todos esses anos? É muito mais cômodo acreditar no que dizem do que buscar a sua verdade. Colocar tudo nas costas de deus e se livrar de toda a culpa, é muito mais digno, vamos combinar... Temos padres, pastores, com Cielo nas mãos prontos para nosso cartão de débito, afinal, o dízimo é sagrado!!! É tudo pro bolso de deus, pra aumentar a igreja, pra fazer doação, PRA LIVRAR SUA MALDITA ALMA DO INFERNO.
Quem nunca comprou um tijolinho no céu?
Mova todo desencanto, o pai, o filho e o espírito santo. Mova. Mova.




Os trechos em vermelho, são de uma música do Dance Of Days, que eu sou fã enlouquecida, encaixaram perfeitamente - e serviram de inspiração - para o post de hoje.
 

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