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sexta-feira, 8 de julho de 2011

There's no way.

Você decide se desligar do mundo, coloca a playlist preferida, põe os fones do último volume e acende o cigarro. Estica a blusa de moleton com cheiro de sono, amarra o cabelo e encaixa o capuz, entra no bar e pede uma Heineken bem gelada, daquelas pra queimar a garganta.
Senta numa mesa na calçada e não consegue ouvir a própria cabeça, com a música tão alta nos fones. Mas na realidade o propósito era esse mesmo, se "desligar" lembra? Um amigo passa pela rua, acena, eu retribuo e ele vem de encontro a mesa. Ele puxa uma cadeira e senta, logo eu sou obrigada a pausar a música e puxar um assunto qualquer...
- Nossa, você por aqui?
- Pois é... Pra você ver.

Sabia que aquilo iria me render um livro inteiro de histórias, já que fazia meses que não nos encontravámos. Ele tem um lado de mim, e eu me enxergo refletida nele. Engraçado é que não somos super amigos, tampouco sabemos algo da vida do outro. Mas é sempre bom vê-lo, mesmo que seja uma vez ou outra, porque sei que ele me dá algo pra pensar, sempre acrescenta.
- Anda lendo meu fotolog?
- Sempre vejo nas atualizações, você mudou de user, não foi?
Eu o questionei, mas já sabia a resposta. Ele cancelou o antigo desde a última vez que nos vimos, fez outro e não tinha me adicionado. Mesmo assim, eu sempre lia. Me é tão real, eu sinto as palavras dele, soa como um passado marcado, é muito vivo.
- Mudei sim. Vou fazer um livro daquele outro.
Essa eu não sabia. Ele tem tudo pra ser escritor. Mas é real o que ele escreve, não é conto, não é sonho, não é viadagem. É dor, é lágrima, é sangue. Acho que é por isso que ele me serve de espelho. E fui encontrá-lo logo hoje, day off...
- Sério?! Poxa, você escreve muito bem. Muita imaginação, hein?
- Antes fosse.
Virei mais um copo. O papo ia ser longo.
- Ela me deixou. Minha vida mudou demais desde então... Preciso passar isso pro papel agora, preciso dar um jeito de arquivar tudo isso.
Eu percebi. Fez tatuagens, bebia como se não se importasse mais com nada. Não acompanhei, mas ficava sabendo. Moramos em cidade pequena, sabe qual é, tudo se espalha muito rápido...
- Mas como foi? Você está bem agora?
- Ela está noiva de outro. Acho que isso já responde as duas perguntas.
Nossa. Um cara que se diz tão forte, tão senhor da razão, deprimido por amor - ou falta de - dor essa que eu sinto sem ao menos ter motivos aparentes. Já ele tem todos. Eu o entendo. Mas acho que não é a hora de perguntar, mesmo querendo saber. A ferida ainda está aberta, sinto que a cabeça dele está pulsando, imagina por dentro...
- O tempo cura.
Não consegui falar mais nada.
- Quer outra cerveja?


***

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