Você ouve "Today I don't fell like doing anything, I just wanna lay in my bed..." vê o celular vibrando debaixo do travesseiro e percebe que já são 06h. Pois é, a sensação que você só deu um cochilo de meia hora e já tem que ir trabalhar.
Eu acendo a luz, ligo a Tv e começo a ver as desgraças matinais: Pedofilia, estupro, assassinato, parmamentar ladrão, pessoas alienadas... - Respiro - é só mais um dia comum. Uma Quinta-Feira que poderia ser o dia da minha morte, - mas no fundo - eu sei que não vou embora hoje.
Me visto, escovo os dentes, limpo o delineador do dia anterior que faz meu rosto amanhecer com olheiras enormes. Tudo bem, vaidade não é o meu ponto forte. Meu pai já está me esperando no carro, eu penteiro o cabelo, jogo a franja no rosto e visto minha camisa xadrez. Desço, não dou bom dia, odeio falar pela manhã. Ele me entende. Temos um contato indireto, mal nos falamos, mas nos damos bem.
A caminho da padaria onde tomamos café juntos todos os dias, fico pensando o que poderia acontecer para que me impedisse de chegar ao escritório: Mentalizo que o carro poderia bater, eu ficaria presa entre os escombros e talvez não morreria. Eu poderia pedir demissão, também. Como será pedir demissão pra si mesmo?
Bebo o chocolate quente, como um pão de queijo, meu pai vai embora sem se despedir e eu sempre penso que eu ou ele poderiamos morrer hoje e sequer dizemos uma última palavra. Ele nunca disse que me ama.
Coloco os fones no último volume e venho cantarolando Mãe - "pedra que não rola cria limo, segue em paz o seu caminho..." - nesse trecho eu sempre me sinto mal, aquelas tristezas instantâneas que me dá toda manhã.
Não sei se eu estou pronta pra perder. Eu queria saber quando foi que tudo isso aconteceu, quando eu me tornei essa pessoa fria, dura e incomum. Quando o meu deus foi embora, quando a reza antes de dormir quando eu tinha medo de filme de terror não deu mais resultado. Quando a insônia e a vontade de cortar os pulsos começou a me vir a cabeça toda noite... Where's my mind?
Me afasto, tenho repulsa e vontade de ir pra longe. Ninguém faz idéia do que se passa aqui dentro. Não é tpm, não é rebeldia, não é depressão. Eu acho que é mágoa. Algo bem mais forte que dor. O meu pai sabe porque eu não dou bom dia pra ele. E ele também sabe porque não consegue dizer que me ama. Ele sabe porque eu olho pra ele com olhos diferentes. Ele sabe.
Eu não sei. Ele foi embora sem se despedir. Nunca tive um argumento, nunca soube o real motivo. Mas ele sabe... Eu sinto vontade de conversar com ele, mas também sei que vai doer, então é melhor continuar assim.
Eu vou caminhando. Já tenho dezoito e sinto que acabei de nascer. Pago a minha cerveja, os meus cigarros e tudo o que me dá prazer. É tudo tão complexo que me perco dentro de mim, como se estivesse num espaço onde não há nada a não ser o vácuo: Um infinito que não me cabe. É apertado, tenho que me adaptar, buscar as minhas próprias razões. Quando foi que eu deixei de acreditar em tudo?
Meu primeiro nome é emoção e o sobrenome é desconfiança. Hoje eu não preciso mais de ninguém. Sou autodestrutiva, me suicido um pouquinho a cada despertar, vou dormir com menos esperança - a fé já deixou de existir, nem jesus, nem igreja - acordo mais inconformada e me sinto como um hamster numa gaiola: Correndo sem sair do lugar, sem chegar a lugar nenhum.
Estou no mesmo emprego há quase três anos. Fazendo a mesma coisa. Sabendo que não tem um lugar melhor aqui. Estou ciente que sou uma ótima colaboradora, mas infelizmente a empresa não tem mais nada a me oferecer. Mas eu continuo vindo aqui, todos os dias, das 07h30 as 17h30 - O bom dia entre dentes, a vontade de bater o carro, ficar presa nas ferragens; ou até mesmo me jogar da escada da cozinha que não tem corrimão, ficar afastada pelo INSS e processar a empresa por falta de estrutura.
Um dia a coragem chega.
Enquanto isso venho aqui escrever tudo o que ninguém parece escutar.
Como eu disse, quando leio o que você escreve, parece que todas suas palavras sairam da minha cabeça, impressionante como vivemos quase a mesma vida!
ResponderExcluirComo você me disse, seus textos são muito pessoais, muito particulares. Admiro a sua atitude de se "expor" dessa forma. E de fato estão atingindo o seu objetivo: causar algum tipo de emoção em quem lê. É impossível ler e não se identificar ou lembrar de várias coisas particulares também. Muito obrigado pelos momentos de reflexão.
ResponderExcluirAinda me impressiono um pouco, com o tão bom é o que você escreve, mas é bem peculiar e por isso que venho aqui.
ResponderExcluiradorei, sté!
ResponderExcluirme vi refletida em grande parte do texto.
parabéns!
(izadora)