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terça-feira, 5 de novembro de 2013

Nada de Importante

Vou ligar para a psicologa e desmarcar a consulta.
Não.
Vou ligar pra você e dizer a verdade.
Isso seria o mais provável, e é obvio que não tenho essa coragem toda.
Vou ouvir Arnaldo Antunes e Seu Jorge até enjoar e me sentir com 15 anos outra vez.
Seguir a linha azul do metrô - Jabaquara, Tucuruvi - só pra perder a noção do tempo.
Posso assistir sessões seguidas no cinema também.
Sair do shopping depois das 22hs, parar no bar e tomar um açaí ou uma cerveja.
Ou duas. Três.
Também vou pintar as unhas e cortar mais o cabelo.
Fazer uma tatuagem ou outro piercing.
Desligar o celular pra não ter que ver as mensagens de convite pra beber.
O dvd do Laranja Mecânica já está rodando de novo.
Falo junto com Alex DeLarge. Decorei o script.
Terminar de ler aquele livro seria uma boa... Ao invés disso vou comprar mais um do Carpinejar.
Vou ver álbuns de casais que conheço e me questionar se toda aquela felicidade é de verdade ou é só pose pra foto.
Preciso seguir com a terapia.
E reler àquele trecho de Freud que eu anotei à mão no moleskine.
Comprar um jeans colorido e ir num show.
Esperar o metrô abrir sentada no sofá da pastelaria ouvindo a conversa dos outros.
Ler enquanto as pessoas digitam mensagens em seus celulares.
Comprar o jornal.
Ler o horóscopo.
Mais um livro de bolso do Jabor.
Gosto de crônicas. Me soam tão reais...
Todo mundo fica na bosta um dia.
O meu problema é que eu não demonstro. Eu escrevo. Registro. O que é bem pior, pra falar a verdade.
Posso sentar numa mesa do Mc Donald's e conversar durante horas sobre como eu me sinto ridícula.
Mas eu vou juntar as frases com uma foto e guardar num link.
"Preciso de coragem, não de terapia"
"Mil e uma coisas para fazer depois de dormir com alguém"
Quem sabe um dia não vira livro.
Crônica.
E alguém compre numa banca de jornal, mais um livro de bolso.
Custa só 5 reais.
É mais barato do que passar o dia no cinema.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ao início, o fim e o meio.

Ele não me disse adeus.
E quando voltou, também não me cumprimentou. 
Mas desde sempre foi assim: a gente conversa só o necessário.
Não nos damos beijo de boa noite, nem confessamos sentir saudade, muito menos abraço de feliz aniversário. Pode parecer estranho e frio, mas a gente se dá bem assim.
Desde o começo, quando eu pedia ajuda pra terminar alguma atividade da escola e ele me dava um livro sobre a matéria e mandava eu ler. Eu me irritava com a falta de atenção, hoje eu entendo o lado dele. 
Ao contrário do gato que a gente cria, que ele faz carinho e não hesita em proteger. Pode soar arrogante, mas a gente se dá bem.
Ele me apresentou o rock, o Raul Seixas, Bee Gees e o Lobão. Quando todo mundo tinha um disk man, ele me deu um Philips que tocava LP, fita K7 e CD. Na coleção de discos dele, tinha uma pilha só do Roberto Carlos e Erasmo, foi quando eu entendi a importância da música pra expor sentimento.
É ateu, ri quando vão à missa e nunca entra em igreja. Não por ser chato, mas por respeitar tanto que não consegue invadir o espaço de ninguém pra ofender a crença alheia. Não se incomoda com os meus incensos ou papos sobre Buda e liberdade.
Quando eu estava chorando por causa dos namoradinhos e ele me ignorava e eu sentia tanta raiva... mas hoje percebo que ele sabia pelo que valia a pena chorar.
Lembro também da primeira vez que eu fui suspensa no ensino médio e ele teve que ir na escola me buscar. Nunca senti tanto medo e coragem ao mesmo tempo: será que ele finalmente iria abrir a boca e gritar comigo? Demonstrar qualquer sentimento, mesmo que seja raiva? Não. Ele me ignorou por um mês, mais ou menos. Ou até esquecer a decepção.
Me levava aos sábados de manhã pro curso de inglês ouvindo Raul no volume 23 e me dava um orgulho tão grande ter um pai que me dava tantas boas influencias sem falar uma palavra. Pagava com orgulho, mas nunca se interessou se eu estava progredindo. Era da mesma forma na escola, no cursinho e hoje na faculdade. Será que é confiança ou ele só quer saber quando dá alguma bosta?
Ele nunca me deu presente em datas comemorativas, sempre ganhava dinheiro pra comprar o que queria. Ao mesmo tempo que achava demais, sempre me faltou alguma coisa. Assinava os cheques para todos os passeios da escola, me dava uma das parcelas do décimo terceiro pra eu comprar roupas e tênis pro natal, quando eu sequer sabia o que era ter um emprego ou muito menos o que é trabalhar 20 anos no mesmo lugar.
Quando chegou a hora do vestibular, me perguntou se a primeira opção era Biologia. Eu calei. Depois de 18 anos de silêncio, não queria desapontar a única certeza que ele tinha: a filha seria uma bióloga. Respirei e disse que ia ser Jornalismo e que não teria segunda opção. Bateu o cigarro no cinzeiro, olhou pra mim e perguntou se era isso que eu queria fazer o resto da vida, eu respondi que o resto da vida era muito tempo, mas era isso que eu queria agora. Me apoia há 3 anos e há um de me formar, ri quando eu digo que terá de dançar comigo na formatura.
Tenho planos de ir pra fora, comprar o primeiro carro ou um apartamento. Ele me conselha à usar o dinheiro da faculdade pra dar entrada num apartamento, fazer igual ele, investir em imóveis ao invés de carro.
Ele sempre quis ter uma filha mulher, mas queria 3. Nasci só eu, a única da vida, e hoje, aos seus 47 anos, ainda não o conhece tão bem ou já sei o suficiente pra manter uma boa relação.
Eu tenho tudo dele, da orelha até o formato do pé, o jeito frio de expressar alguma coisa ou a paciência pra ouvir a minha mãe conversando às 6h30 da manhã.
Feliz aniversário, pai. Obrigada por me dizer tanto sem falar nada.



quarta-feira, 10 de julho de 2013

O café que nunca aconteceu



Tenho vivido mais tempo do que o esperado. Desde criança, àquela fase que a gente começa a fazer planos e pensar em como será a vida de adulta, eu me imaginava sempre à frente do que era real. Com 10 anos, eu sonhava em ter 15 pra poder namorar. Com 16 comecei a trabalhar, terminei a escola e prestei o vestibular pra jornalismo, jogando no lixo a esperança do meu pai em ter uma filha bióloga. E tive o primeiro relacionamento que durou 3 anos. Com 17, já na faculdade, saí do primeiro emprego e tive tempo suficiente pra pensar sobre o que eu realmente queria e as notícias nunca foram tão boas.
Eu nunca vivi a idade que eu tive, sempre quis testar ideias de um futuro que eu nunca tinha certeza que ia chegar. Mas uma coisa é certa: Eu sentia medo dos 20. Ter 20 é estar perto dos 30, é estar prestes a terminar a faculdade, traçar a carreira profissional, ter mais dívidas do que dinheiro na conta, ter menos amigos do que já imaginou, ter receio de relacionamentos e o medo do futuro, pela primeira vez, me fez querer desistir.
Falta pouco mais de um ano pra eu me formar, não guardei dinheiro, não tenho carro nem iphone. Uso as mesmas calças jeans há um bom tempo, só compro outro tênis quando a sola do anterior rasga. Será que esses são os problemas dos jovens adultos atuais? Quando os meus pais tinham 20, será que eles tinham essas preocupações?
Da galera que estudou comigo no ensino médio, uns 5 fazem faculdade, outras 10 já tem filho e as demais namoram um cara que tem dinheiro e não se preocupam com nada além do cabelo loiro e liso. 
Acho que me preocupo demais. Engraçado, a minha psicóloga ri dos meus medos e diz pra eu me jogar e deixar as coisas acontecerem. Mas aí que está: não consigo não ter controle do que está acontecendo comigo. E como a vida é cheia de tropeços, me apaixonei. Pro meu desespero. Pra minha loucura. Adubo pra insegurança.
Logo os meus 20 se tornarão 20 e uns, e hoje eu só queria ter 30 e um emprego fixo. Ter um gato e um apartamento pra voltar e ficar sozinha a noite. Mas isso é só especulação: ontem conversei com um amigo sobre casamento e abrir mão de carreira por amor. Que irônico. Eu traçando planos com um cara que eu nunca toquei, deixando abertamente claro que a minha pose de durona é só faixada, e na verdade o que eu mais quero é ter liberdade de gostar de alguém sem me julgar. O inimigo é sempre eu mesma. O problema é sempre comigo, a gente ainda pode ser amigo...
Tenho medo de arriscar e perder. Tenho medo de ficar na mesma. Não quero me jogar sem saber que ele vai estar lá pra me segurar. Não quero fazer papel de palhaça. Tenho medo de palhaço, sempre tive.
Quero vencer a idosa de 80 anos com 13 filhos que eu devo achar que eu sou e aceitar que eu me posso me apaixonar e ser interessante o suficiente pra algum cara. Eu penso demais nos outros. Devo guardar trauma dos 3 anos de casamento e me sentir uma divorciada sem qualidades.
Queria conseguir viver um dia de cada vez. Viver os 20 com plenitude de 20, com um namoro de plástico, emprego de recepcionista de consultório odontológico e 10 quilos a menos.
Mentira.
Me dá repulsa imaginar uma vida assim. (os 10 quilos a menos não é má ideia!)
Tomar café com pessoas do passado talvez seja a maneira que eu arrumei de manter elos e reviver os 15, 16, 17 anos que passaram sem que eu percebesse. A gente se reúne e bebe cerveja como gente grande, dá risada e relembra casos e histórias que na época não passavam de bobagem. Hoje é tão nostálgico rir das besteiras que a gente fazia e achava que tudo teria uma consequência, e a única coisa que eu guardei de tudo aquilo foram poucas fotos, alguns bilhetes de cinema, tampas de garrafa, cartinhas e uma aliança de compromisso de um ex que hoje é meu melhor amigo gay.
Existe um café marcado desde Março. É um daqueles encontros que a gente faz de tudo pra que aconteça, mas sabe que não. A gente sabe que vai relembrar coisas que viveu demais.
Despertar nos 20, enfrentar algumas horas de sono mal dormido e convencer a psicóloga que eu não posso ter passado tanto tempo adiando as situações.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O tempo não pára e a gente ainda passa correndo

Eu fiquei aqui... tentando agarrar o que eu puder...


2013 já começou. Aconteceu tanta coisa.
Me sinto devagar, cansada, ainda não sei. Estou bem, estou feliz como há tempos não estive.
Sei que tudo o que espero, só depende de mim. Não espero dias de sol e nem reclamo da chuva. Aprendi a contemplar o céu independente do que ele tem para me oferecer.
Deus está nas pequenas coisas... No assento que eu dou para alguém no ônibus, ou no guarda chuva que eu compartilho com alguém que eu não conheço, mas também estava indo pra faculdade onde estudo.
A paz que eu sinto está na ida ao supermercado com os meus pais, com o churrasco de domingo só para nós três. Ou na visita de alguém da minha família, das fotos que nós revemos e damos risadas.
Gosto de quando lembram de alguém que não conheci. Sinto o passado cada vez mais vivo, mesmo que esta pessoa não esteja mais.
Aprendi a apreciar a mudança, o novo uniforme, as meias que eu rasgo tentando vestir e até as novas preocupações que eu sou responsável. Todo dia eu aprendo alguma coisa. Admiro quem está do meu lado, incentivando o meu crescimento e dividindo o conhecimento.
O meu caminho está sendo traçado sem eu sentir... 
Completei um ano de GHSP e olhar pra trás não é tão ruim assim. O rumo continua sendo o mesmo, os amigos que cativei na estrada continuam do meu lado e me querendo bem. 
Quando penso nisso tudo, me dou conta: E cara, como eu sou feliz.
Meus amigos continuam me fazendo rir até perder o fôlego e sendo o meu escape para todo o prazer imediato que eu sinto vontade. Os amores estão espalhados por aí... Nem sempre é como deveria ser, ou talvez seja, eu que não descobri o ponto de vista certo para enxergar.
Há felicidade no erro. Aprender é ser feliz, poder tropeçar, cair e levantar sabendo onde consertar.
Os planos estão mais vivos do que nunca, a faculdade me cansa, os livros estão encostados e não sei administrar a procrastinação que habita em mim. Mas vai dar tudo certo.
Acendo a vela e o incenso, repito àquele mantra e me encontro. Fico em paz, feliz. O caos fica pra fora, e quando acordo, começo tudo de novo.

Atitude do mês é a tolerância.

 

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